Prof.° Elisonaldo Câmara

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Mossoró/Guamaré / Pedro Avelino, Rio Grande do Norte, Brazil
Graduado em História pela UERN, Especialista em Geo-História, professor do município de Guamaré e do Estado do Rio Grande do Norte.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Doce pecado

Na nossa sociedade é de costume se desejar “Feliz Páscoa” a alguém dando de presente um ovo de chocolate. Mas nem sempre esta delícia de cacau foi bem recebida pela religião.
Em nossa tradição, é impossível não associar o chocolate à Páscoa, festa maior do cristianismo. Desejar “Feliz Páscoa” a alguém é um costume que quase sempre vem acompanhado de um presente previsível: um ovo de chocolate – ou, simplesmente, um “ovo de Páscoa”. Mas a relação entre a iguaria e a religião que está na base da cultura ocidental nem sempre foi pacífica.
 A guloseima, originalmente consumida por “pagãos” americanos e que caiu no gosto das altas rodas da Europa, era cercada de mistérios, como no caso dos chocolates aromáticos das cortes italianas, como revela Eddy Stols nesta edição. Os Médici, titulares do grão-ducado da Toscana, mantinham segredo absoluto sobre a receita do chocolate com aroma de jasmim, cobiçado por outras casas européias. Sua fórmula era guardada em uma caixa-forte. A Igreja, como se sabe, não via com bons olhos mistérios que não estavam sob sua guarda.
 Mas o apreço pelo produto não era resultado apenas do aroma irresistível ou do paladar inigualável. Além de saboroso, o chocolate era apreciado por suas virtudes terapêuticas. Em meio a um verdadeiro frenesi, não tardaram a surgir, no século XVII, as primeiras denúncias de abuso na sua ingestão. E numa época profundamente marcada pela religião, o debate se dava na esfera da Igreja. De um lado, jesuítas cantavam as delícias do cacau; do outro, os dominicanos lamentavam o novo vício europeu.
 A Europa, terra do vinho, era aos poucos invadida por legiões de beberrões de chocolate – inicialmente a Espanha, e posteriormente o resto do continente; nos cafés que se multiplicavam no rastro de outra bebida famosa, homens amanheciam em busca das primeiras doses do líquido turvo; nos palácios e nas casas mais refinadas, as xícaras passavam a figurar ao lado das taças, em lugar de destaque. Quente ou gelado, líquido ou pastoso, puro ou com aguardente, tomava-se chocolate de todas as maneiras, com o objetivo de estimular os sentidos de formas inusitadas.
Os próprios jesuítas, que elogiaram seu uso na Itália, chegaram a dizer em Portugal, onde o hábito de beber chocolate se alastrou no século XVIII, que o produto era um estimulante sexual. Contrariando a interpretação tradicional de S. Tomás de Aquino, para quem líquidos não quebravam o jejum, exigiram sua proibição durante o período da Quaresma, quando os cristãos deveriam se afastar dos prazeres da carne (em todos os sentidos). Tentativa inútil, pois o papa, em Roma, cedendo à pressão dos primeiros chocólatras, e para a felicidade de quase todos, autorizou o pecado durante o ano inteiro. In: RHBN.
 

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