Prof.° Elisonaldo Câmara

Minha foto
Mossoró/Guamaré / Pedro Avelino, Rio Grande do Norte, Brazil
Graduado em História pela UERN, Especialista em Geo-História, professor do município de Guamaré e do Estado do Rio Grande do Norte.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O diabo no confessionário

Mary del Priori relata os incríveis casos de clérigos sem pudor que durante o período colonial usaram a privacidade das igrejas para seduzir fiéis.

 

As mulheres eram mantidas sob intensa vigilância social, que exigia recato sempre que estivessem em público. Uma senhora indo à missa numa cadeirinha, aquarela, Jean-Baptiste Debret, 1820-1825

Assim como a água cedo ou tarde encontra um caminho por onde escoar, o ser humano, movido pelo desejo, descobre formas de satisfazê-lo. Seria exagero dizer que, quanto mais intensa a proibição, maior a motivação para alcançar esse objetivo? Se o cerne do desejo é o impulso sexual, parece que a criatividade não tem limites. Sob a vigilância permanente de uma sociedade guiada por rígidos códigos de conduta impostos pela Igreja, que tornavam o templo um dos poucos lugares em que o contato social era permitido, a repressão acabou por dar lugar à permissividade em solo consagrado.Os séculos ditos “modernos”, do Renascimento, por exemplo, não foram tão modernos, assim. Um fosso era então cavado: de um lado os sentimentos e, do outro, a sexualidade. A concepção do sexo como pecado, característica do cristianismo, implicava a proibição de tudo o que propiciasse prazer. Desde as carícias que faziam parte dos preparativos do encontro sexual aos mais singelos galanteios. Na verdade, os casamentos contratados pelas famílias deixavam pouco espaço para as práticas galantes, uma vez que os noivos eram submetidos a constante vigilância. Apesar de, para a realização desses casamentos, ser irrelevante a existência ou não de atração entre os noivos, a repressão social tornava imperativo adaptar os jogos de sedução às regras impostas. Mensagens e gestos amorosos esgueiravam-se pelas frinchas das janelas ou sobrevoavam o abanar dos leques.Tanto controle transformava as cerimônias religiosas (uma das únicas ocasiões em que os jovens podiam se encontrar sem despertar suspeitas e reprimendas dos pais ou confessores) em palco privilegiado para o namoro. Não foram poucos os amores que começaram num dia de festa do padroeiro ou de procissão, havendo até os que esperavam a Quinta-Feira Santa e o momento em que se apagavam as velas, dentro da Igreja, em respeito à Paixão de Cristo, para aproximar--se um do outro. E no escurinho choviam beliscões, pisadelas e gestos eróticos. O intuito não era levar os amantes para a alcova, mas marcar encontros nas soturnas capelas.As igrejas paroquiais foram convertidas, nesse tempo, em espaço para namoricos, marcação de encontros proibidos e traições conjugais. Moleques corriam de um lado ao outro da nave levando recados. Não foram poucas as ordens dadas por bispos setecentistas exigindo a separação de homens e mulheres no interior das capelas. O clero temia os encontros e suas consequências. Compreende-se, assim, o porquê de uma carta pastoral como a de Dom Alexandre Marques, de 1732, proibindo a entrada nas igrejas de “pessoas casadas que estiverem ausentes de seus consortes”. Nas igrejas, brotavam romances sem limites. Não por acaso, um manual português de 1681, escrito por Dom Cristóvão de Aguirre, continha as seguintes perguntas: “Se a cópula tida entre os casais na Igreja tem especial malícia de sacrilégio? Ainda que se faça oculta-mente?”. Lugar de culto, lugar público, a Igreja seria também um lugar de sedução e de prazer. Onde, vez por outra, Deus dava licença ao diabo...Fonte: História Viva.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Envie suas dúvidas para o professor Elisonaldo

Nome

E-mail *

Mensagem *