No começo
do século XX, o Nordeste brasileiro foi palco de um fenômeno social que usou de
práticas violentas para expor sua insatisfação quanto às más condições de vida
da população. Caracterizado pelo governo como uma forma de banditismo social a
ser combatido, enquanto era temido e adorado pelas populações regionais, o Cangaço
(que vem da palavra "canga", uma peça de madeira feita para unir um
grupo de bois a um carro) uniu figuras que iam de cidade a cidade buscando
justiça e vingança das autoridades pela falta de alimentos, empregos e direitos
cidadãos que tornavam a maioria da população alheia ao crescimento do país.
Mesmo que majoritariamente masculino, o movimento foi acompanhado por mulheres
que tiveram papéis muito importantes no destino do Cangaço. Qual foi a primeira
a se aproximar dessa causa?Maria Gomes de Oliveira foi a primeira mulher a
participar de um grupo de cangaceiros. Maria Gomes de Oliveira nasceu em 8 de
março de 1911, no povoado de Malhada da Caiçara, pertencente à cidade de Paulo
Afonso, na Bahia. Filha de Maria Joaquina da Conceição Oliveira e José Gomes de
Oliveira, a moça passou sua infância e adolescência toda em um ambiente rural e
humilde. Aos 15 anos, casou-se com José Miguel da Silva, o Zé Neném, tendo
início a um período de muitas brigas em sua vida. Eles não tiveram filhos,
visto que ele era estéril. Após cada uma das brigas, Maria voltava para a casa
de seus pais. Em um desses momentos, ela reencontrou um velho conhecido da
família, um dos principais líderes do Cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o capitão
Lampião, que havia recebido esse título a partir de uma promessa não cumprida
do governador do Ceará de unir o bando aos batalhões da Guarda Nacional caso eles detivessem o avanço da Coluna Prestes. Em 1929, os cangaceiros passavam pela
fazenda da família de Maria Gomes. Como era amigo da família, ele sempre
colocava essa fazenda em seu trajeto, mas há tempos não se encontrava com a
moça.
A companheira de Lampião morreu
em 1938 atacadas de surpresa pela volante. Ainda que fosse visto como um perigo
para a sociedade pelo governo, Lampião era amado pelos fazendeiros, que o viam
com respeito e admiração. A família aprovou o namoro entre os dois e durante um
ano ela continuou vivendo com os pais, recebendo a visita de Lampião e seu
bando. No ano seguinte, Lampião chamou a mulher para integrar o grupo e
acompanhá-lo em suas andanças. Em 1930, Maria se torna a primeira mulher a
fazer parte de um bando de cangaceiros, com o codinome de Maria Bonita, abrindo
espaço para que várias outras também pudessem participar.
Maria
Bonita viveu com Lampião durante oito anos, tendo sido ferida apenas uma vez.
Desse relacionamento nasceu uma filha, Expedita Ferreira Nunes, reconhecida
legalmente, mas criada por um casal de amigos vaqueiros. Há, ainda, dois filhos
gêmeos chamados Ananias e Arlindo Gomes de Oliveira, cuja paternidade é
atribuída ao casal, mas ainda há dúvidas nos documentos históricos. Devido às
condições difíceis de vida no Cangaço, Maria Bonita sofreu três abortos. Em 28
de julho de 1938, o bando estava acampado em Sergipe, na Grota de Angicos,
quando foi atacado de surpresa pela volante, a política armada oficial, que há
tempos lutava contra os cangaceiros. Os principais líderes do movimento, como
Maria Bonita e Lampião, foram mortos e degolados, e suas cabeças foram expostas
como exemplo de traição à nação.Há 10 anos, a Prefeitura de Paulo Afonso
terminou a restauração da casa em que Maria Bonita viveu durante a infância,
criando o Museu Casa de Maria Bonita para celebrar a vida dessa mulher
pioneira.
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