Por Ana Paula Sanvido
Nascido em 1483, na
cidade de Eisleben, na Saxônia, o camponês Martinho Lutero foi o precursor do
movimento maior, chamado Reforma Protestante. Para entender o movimento é
preciso, primeiro, entender os motivos que levaram Lutero a um rompimento com a
Igreja de Roma, e conseqüente criação de uma nova Igreja.
Tendo entrado para o
convento dos padres agostinhos, em 1512 torna-se professor e doutor na Sagrada
Escritura, na Universidade de Wittemberg·. Frade honesto, praticava as
doutrinas com zelo, mas por possuir uma imagem de um Deus colérico e dominador,
sua consciência o perseguia.
Conforme seguia em
seus estudos, a importância da Bíblia crescia·. Apoiado nela, Lutero critica as
superstições populares e o culto dos santos. Foi também durante seus estudos
que se deparou com as palavras: “o justo viverá pela fé”, da epístola de São
Paulo aos Romanos. Foi daí que tirou, posteriormente, que a salvação das almas
se daria pela fé, e não pelas obras.
Em 1510, durante uma
viagem a Roma, em negócios da sua ordem, Lutero se escandalizou com a
leviandade e o luxo material do papado. Impressionou-se, sobretudo, com a venda
de Indulgências que, segundo ele, desencaminhavam as almas simples: os
ignorantes compravam as Indulgências acreditando que eles e seus entes seriam
salvos – o dinheiro arrecadado com as vendas era usado na construção da
Basílica de São Pedro.
Contra elas, Lutero
escreveu suas 95 teses, nada mais que uma forma encontrada por ele de organizar
as críticas contidas em seu espírito. Na véspera do dia de Todos os Santos,
Lutero fixou suas 95 teses na porta da capela do castelo de Wittemberg, na
intenção de que o grande número de fiéis que iriam à cidade as visse.
Ao ficar sabendo
disso, o arcebispo Alberto de Mongúcia, que se aproveitava do dinheiro
resultante da venda de Indulgências, transmite ao Papa as 95 teses de Lutero,
que conseguia um apoio cada vez maior do povo, além de ser protegido pelo
Príncipe-eleitor da Saxônia, Frederico III.
Foi convocada então
uma dieta em Augsburgo, no ano de 1518, que reuniria todos os potentados
alemães, presididos pelo imperador Maximiliano. O cardeal Cajetan ficara
incumbido, pelo papa Leão X, da tarefa de entrevistar Lutero e o obrigar a se
retratar, ou sofrer as conseqüências de seus atos, e seria, então, levado a
Roma como prisioneiro. Mas Lutero não se retrata.
Em 28 de novembro de
1518, apela ao papa um concílio geral da Igreja Cristã, tinha como objetivo a
reforma espiritual e moral da cristandade. Tendo estudado a história do papado,
encontrou bases para justificar sua dúvida quanto à suprema autoridade papal,
contrastando-a com a da Bíblia. Começa a enviar uma série de panfletos, em
alemão e latim, para um público cada vez maior: as pessoas começaram a ler seus
escritos, e sua fama aumentava.
Em 15 de junho de
1520, é publicada a Bula Exsurge Domine,
que condenava quarenta e uma proposições de Lutero como heréticas, e ordena que
seus livros sejam queimados, além de estabelecer o prazo de dois meses para que
ele se arrependa, ou seria excomungado.
No dia 10 de dezembro
de 1520, Lutero queima, diante de cidadãos e membros da Universidade, os livros
de direito canônico, os decretos papais e uma cópia da bula. Em 3 de janeiro de
1521, sua excomunhão foi tornada definitiva.
A
disputa havia alcançado o campo da política européia. O imperador alemão Carlos
V, vinte dias após a excomunhão de Lutero, convoca uma dieta em Worms, com a
intenção de tomar as medidas necessárias para deter as idéias novas que
circulavam na Alemanha, consideradas perigosas. Ali, Lutero foi convocado mais
uma vez a se retratar, e novamente negou. Passado um mês, foi Lutero foi
declarado excomungado do Império.
Lutero
foi levado para o castelo de Wartburg, onde começa a traduzir o Novo Testamento
para o alemão, defendendo que a Bíblia deveria entrar nas casas da gente
simples, além de retomar seus estudos sobre os Salmos e comentários das
Epístolas e Evangelhos.
Durante
o período que permaneceu ali, o imperador proclama o édito de Worms, que baniu
do Império Lutero e seus partidários. Isso significou a ruptura definitiva
entre Lutero e a Igreja de Roma.
Na
mesma época, as doutrinas luteranas começam a ser proclamadas em muitos cultos
alemães. Começavam a ocorrer tumultos e ameaças contra padres e monges
conservadores. O eleitor Frederico III, católico devoto, não gostou das
notícias. Lutero também não.
Lutero
não era extremista, mas parecia ser. Escrevia panfletos contra as revoltas, e
arriscava a vida numa tentativa de deter a violência. Alguns homens afirmavam
não desejar a reforma; seu próprio amigo, Staupitz, dizia que nenhuma reforma
era justificável, se colocava em risco a unidade da Igreja.
Conforme
rompia com a Igreja Romana, Martinho Lutero se via obrigado a organizar uma
nova, cujos pilares são a Bíblia alemã e seus hinos. Ele não eliminou ou
modificou o que não estava em desacordo com a palavra de Deus.
Em
1525, o culto em Wittemberg começa a ser celebrado de forma diversa; em 1526
foi publicado “A Missa Alemã”, que esclarece as modificações introduzidas, como
por exemplo a substituição do latim pelo alemão, e o chamado aos fiéis a serem
mais participativos, como por exemplo através do canto, principalmente no coral.
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