Por: Elisonaldo Câmara.
A
Arábia é uma península da Ásia Ocidental, próxima da África. Limita-se a
noroeste com a Palestina, ao sul com o oceano Índico, a leste com o golfo
Pérsico e a oeste com o mar Vermelho. A região que apresenta melhores condições
geográficas, permitindo até mesmo uma razoável prática da agricultura, se bem
que em áreas restritas. Os núcleos urbanos eram importantes centros comerciais,
de onde partiam caravanas em direção a Áden, no sul da Arábia, ou a Bassorah,
no golfo Pérsico. Nos referidos portos, os mercadores adquiriam especiarias
orientais, que ali chegavam através da navegação de cabotagem, e as revendiam
no Oriente Médio e Próximo. Os lucros eram enormes e fizeram a fortuna dos
comerciantes, principalmente de Meca. Além do comércio
externo, havia um ativo comércio interno entre os árabes do deserto, conhecidos
como beduínos, e os do litoral. As práticas comerciais, contudo,
circunscreviam-se aos meses finais do ano, quando os beduínos se deslocavam em
direção às cidades. Além de seus objetivos mercantis, essa migração possuía
também um caráter religioso, tendo Meca como ponto de convergência. A atração
da cidade era um templo, a célebre Caaba, que abrigava numerosos ídolos
adorados pelas tribos do deserto, assim como uma Pedra Negra,
sobre a qual, segundo a tradição, repousou Ismael, considerado o ancestral do
povo árabe. Havia ainda em Meca uma fonte sagrada (Zem-Zem), um vale onde o
demônio (Iblis) era apedrejado pelos fiéis e o Monte Arafat, local de meditação
noturna.
Maomé e o Islamismo
Maomé nasceu em Meca, por volta do ano
570, e pertencia à tribo que dominava a cidade: os Coraixitas.
No entanto, era de uma família pobre. Ficou órfão aos seis
anos de idade, sendo criado pelo avô e em seguida pelo tio Abu Taleb. Aos 15 anos de
idade, já trabalhava nas caravanas que demandavam a Palestina e a Síria. Foi
assim que tomou contato com povos e regiões diferentes e conheceu novas religiões,
principalmente o cristianismo e o judaísmo. Assimilando os ensinamentos dessas
duas doutrinas monoteístas, construiu um sincretismo religioso, isto é, uma integração de elementos retirados do
cristianismo, do judaísmo e do paganismo árabe. O casamento com Khadija, uma
rica viúva que lhe proporcionou a estabilidade material necessária para seu
desenvolvimento intelectual. Maomé começou a fazer retiros espirituais no Monte
Arafat, até que no ano 610 teve “três visões” do anjo Gabriel. Na última, o anjo
ter-lhe-ia dito: “Maomé, tu és o único profeta do verdadeiro Deus (Alá)!” De
início, restringiu suas pregações aos familiares e amigos, tendo em dois anos
feito mais ou menos 80 adeptos. Sentindo-se mais seguro, iniciou a pregação
pública aos Coraixitas, de quem naturalmente adviria a maior oposição, visto
que estavam ligados economicamente ao politeísmo vigente na Arábia. Começou uma
perseguição. Uma tentativa de assassinato ocorreu em 622, quando então Maomé
fugiu de Meca para Yatreb. Essa foi a Héjira (“fuga”), que marca o início
do calendário muçulmano. Em
seguida, começou a Guerra Santa contra Meca, atacando suas
caravanas, cujos itinerários conhecia muito bem. Seus êxitos militares eram
considerados provas da existência de Alá. Em 630, com o apoio dos árabes do
deserto, Maomé destruiu os ídolos, com exceção da Pedra Negra, que foi
solenemente dedicada a Alá. Estava implantado o monoteísmo e com ele surgiu o
Islamismo, o mundo dos submissos a Alá e obedientes ao seu representante, o
Profeta Maomé. Organizou-se, assim, um Estado Teocrático. De 630 até
632, quando morreu, Maomé viveu em Medina. Converteu pela força das armas os
árabes. E organizou a doutrina islâmica
em seus pontos essenciais. Seu livro básico, o Corão ou Alcorão, só foi
compilado mais tarde, com base nos escritos de Said, um escravo persa que
sintetizava seus pensamentos. A Suna, conjunto de ditos e episódios atribuídos
a Maomé, surgiu depois, para completar a tradição em torno da vida do Profeta.
A palavra “Islamismo” vem do Islã que significa submissão
total a deus. A palavra “muçulmana” veio do árabe e significa
submetido a deus (muslim).A doutrina islâmica prega a existência de um só
Deus, com natureza exclusivamente divina, sem forma humana; daí a proibição a
todos os crentes
(muçulmanos) de representarem formas vivas. Maomé devia ser
considerado o último e principal profeta. Os muçulmanos deveriam acreditar nos
anjos, no Juízo Final, no Inferno e no Paraíso; estes últimos possuíam uma
conotação profundamente materialista, com sofrimentos e prazeres literalmente
materiais. Duas
vertentes são reconhecidas no Islamismo: os sunitas (o maior e mais ortodoxo
grupo islâmico, constituindo maioria religiosa em países como o Iêmen e a
Arábia Saudita, entre muitos outros) reconhecem a sucessão de Maomé por Abu
Bakr e pelos três califas que o seguiram; os xiitas reconhecem a sucessão de
Maomé por Ali, seu sobrinho. Os símbolos mais importantes para os islâmicos são
a família e a mesquita, os elementos centrais da vida dos seguidores do Islamismo.
Os principais pilares do islamismo eram: crença em Alá, cinco orações diárias,
jejum no mês de Ramadã, peregrinar a Meca uma vez na vida e dar esmolas. A
Guerra Santa contra os infiéis era uma prática recomendável, mas não
obrigatória.