Sileno, o velho pai adotivo e beberrão de
Dionísio, perdera-se pelos caminhos e fora recolhido no palácio do rei Midas.
Quando o rei o devolveu a Dionísio, o deus das vinhas lhe concedeu um pedido,
em agradecimento, e Midas não pensou duas vezes:
– Quero que tudo que eu toque se
transforme em ouro.
Dionísio objetou que não era uma boa
escolha, mas o rei insistiu, pois só assim teria a certeza de que jamais lhe
faltaria a coisa que ele mais amava na vida.
Com um suspiro de resignação, Dionísio
concedeu, então, o pedido, e Midas, felicíssimo, avançou para lhe dar um abraço
de gratidão.
– Vá, meu amigo, e que o ouro lhe seja
leve – disse o deus, esquivando-se.
Ao retornar, Midas testou o seu dom,
tocando numa árvore. No mesmo instante ela tornou-se toda de ouro. Até mesmo as
folhas eram douradas, e seu fagulhar metálico soou como música aos seus
ouvidos.
Ao chegar à sua casa, foi correndo se
banquetear. Ao tomar o garfo, ele ficou todo dourado. Com a faca aconteceu o
mesmo, e até o guardanapo se transformou numa placa de ouro.
Empolgando-se, Midas tomou nas mãos o
pernil, mas ao metê-lo nos dentes sentiu um deles trincar-se, e ao tocá-lo, ele
e os demais se transformaram em dentes de ouro.
Neste instante a sua esposa chegou. Os
cabelos estavam molhados. Não chovia.
– Que sorriso amarelo é este? – Foi logo
dizendo.
– Abrace-me, adorada! A partir de hoje
nadaremos em ouro!
Ao soltá-la, porém, viu que a rainha
adorada se transformara em rainha dourada. Só então seu coração conheceu o
terror. Sedento de angústia, agarrou uma jarra e empinou-a. Mas o vinho se
transformara em ouro líquido e lhe desceu pela garganta como chumbo gelado.
Apavorado, ele pediu a Dionísio que o
libertasse da maldição. O deus, penalizado, lhe indicou um rio, onde ele
deveria mergulhar. O rei atirou-se de ponta cabeça e quando emergiu estava
liberto.
Depois disso, Midas largou tudo e foi
morar no mato, feito bicho, junto com o deus Pã.